Dona Elisa: vida de aprendizados
Encontrei dona Elisa por acaso, no dia do aniversário de São Paulo, defronte à pista de atletismo do Clube Esperia. Ela caminhava por uma das alamedas do local, e perguntou a mim e à minha mulher se já havíamos observado a exposição de imagens de São Paulo, na qual mostrava algumas fotos pertencentes ao seu acervo. Nota: eu nunca tinha vista dona Elisa antes na minha vida.
Já havia passado pelo saguão do clube, onde não pude deixar de notar aquelas fotografias, que sempre me fazem viajar no tempo e no pensamento. Aí, claro, respondi a ela que tinha visto as imagens. Dona Elisa, então, explicou, ali mesmo, que certa vez realizou um concurso do mais belo ponto turístico do Brasil. Com isso, conseguiu arrecadar imagens do País todo.
São Paulo, pela proximidade, acabou sendo um dos locais com maior número de postagens recebidas. Daí surgiram as mostras da dona Elisa. Agora, mais do que isso: ela tem atualmente 86 anos, e me disse que até pouco tempo atrás (há cerca de 2 anos) deixou de ser remadora, prática esportiva que a acompanhou por toda a vida.
Aí, não teve jeito. Fui obrigado a convidá-la a participar do Radar Paulista, para que os ouvintes conhecessem um pouco mais sobre essa paulistana, que apesar de morar na região de Cerqueira César, pega três conduções diariamente para chegar ao Esperia, que fica nas cercanias da Ponte das Bandeiras.
“O dia que não vou ao clube parece que fica faltando alguma coisa”, afirmou. Na entrevista dada ao vivo na Rádio Trianon, no dia 28 de janeiro, às 18h, dona Elisa disse ter sido convidada pelo governador Alckmin, em sua gestão anterior, para inaugurar as obras de limpeza do Rio Tietê, por conta de seu histórico como remadora.
“Para entrar no rio, tive que colocar máscara, luvas e uma série de apetrechos, porque o Tietê faz mal à saúde”, contou. Nem sempre foi assim. Dona Elisa ressaltou que, aos 6 anos de idade, ia acompanhar o pai, que a introduziu nas competições de remo. Isto, há cerca de 80 anos. “Naquela época, peguei um peixinho com as mãos no rio, e levei para casa”, disse. “Claro que ao chegar em minha residência, ele já estava morto, e minha mãe explicou que não era a melhor forma de pegá-lo”.
Em outra visita ao Tietê, Elisa levou um baldinho, desses de praia, e foi mais feliz ainda. Pescou vários de uma só vez. O pai, no entanto, o devolveu às limpas águas do rio, e frisou: “lugar de peixe é na água, minha filha.” Desde então, ela nunca mais esqueceu a lição, e seguiu a vida então como remadora.
E o preconceito pelo fato de ser mulher? Afinal, se hoje há um certo ‘senão’ com relação a algumas práticas esportivas disputadas pelo sexo feminino, o que dizer de 60 anos atrás, por exemplo? “Ah, claro que tinha. Tem aqueles homens que nos mandam para casa, porque ali é o nosso lugar”, disse. “Mas, nunca me importei com isso. Para mim, o mais significativo era o que eu estava fazendo e o que sempre fiz, que foi conduzir meu esporte favorito e que sempre adorei”.
Imagens de São Paulo
Com relação à melhor imagem de São Paulo, dona Elisa não consegue dizer qual é. “Todas são muito bonitas e trazem belas recordações”. Mas, e o melhor tempo na capital paulista, qual foi? “Pouco antes de um presidente da República ter sido eleito, eu viajava bastante com um dinheirinho que tinha economizado. Foi um período muito bom. Mas, logo depois que esse presidente entrou no governo, no início dos anos 90, e levou a minha poupança, fiquei sem poder viajar, o que me deixou muito triste”.
Para se ter ideia de sua disposição, atualmente dona Elisa faz caminhadas, joga bocha e tênis. Ela também realiza trabalhos sociais em ONGs e oficinas para crianças menos favorecidas. “Tenho muita alegria em viver, e todas essas atividades me motivam.”
Com relação à família, contou ter tentado se casar em três ocasiões, e que em todas seus pretendentes vieram a falecer, antes de confirmarem o enlace. “Aos 50 anos mais ou menos, fiz a última tentativa, e como não deu certo, desisti. Hoje, tenho uma irmã que mora em São Paulo, e é a minha companhia nos momentos em que me sinto só. Mas, dificilmente isto acontece porque tenho uma vida muito agitada, vou à feira, cuido da minha casa, sempre que posso estou no clube, e assim toco minha vida”. Lições de vida não faltam à dona Elisa.
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